top of page

Neurociência da dor

Atualizado: 1 de jun. de 2022



São seis da tarde de uma segunda-feira que parecia nunca terminar. Chove lá fora, chuva de novembro, sinônimo de incerteza, barulho. O banho quente lava a angustia do corpo que se arrastou até chegar em casa.

Acho que agora preciso deitar no sofá e fingir que sou criança que acabou de chegar da escola. Alguém que não tem nada além de ligar a TV e assistir ao desenho que estiver passando. Por que quando a gente é criança é fácil ser herói. Basta vestir a cortina, a toalha, saltar descalço no tapete e começar a salvar o mundo.

Por vezes o mundo inteiro cabe em um quadrado três por quatro, frio, distante. Quando se é adulto é difícil até salvar a própria pele. O corpo rejeita a ideia de salvação, se contorce, revira, regurgita.

Dói. A alma dói. Dói por não poder fazer nada quando alguns se vão e outros se recusam a ficar. Quando as noites são longas demais para suportar sozinha. Sozinha? E quem não está só?

Reviro as gavetas tentando encontrar pequenas partes do passado que possam salvar, quem sabe, partes ainda menores de minha alma insignificante, tão miseravelmente perdida no luto, pela perda de algo que nunca esteve realmente aqui.

O quadrado três por quatro se aperta, transformando-se numa partícula subatômica, efetuando saltos quânticos dentro dos meus neurônios que se matam um após o outro tentando me fazer sentir melhor.

Mas é só escuro e frio lá fora, as memorias aqui dentro também.



Comments


bottom of page