Frankenstein, de Mary Shelley
- Priscila Roseane
- 12 de ago. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 30 de mar. de 2023
Frankenstein, ou "O Prometeu moderno" e a figura do homem romântico do século XVIII

Foi durante um verão muito "desagradável", palavras da autora, que o tão famoso Frankenstein começou a ser concebido. O ano era 1816, Suiça, em visita à mansão de Lord Byron, um dos poetas mais influentes do romantismo, que a jovem Mary, na ocasião acompanhada por sua meia-irmã, Claire Clairmont, e seu namorado, Percy Shelley, então poeta da escola romântica, foi incentivada pelo anfitrião, junto dos demais, a escrever um conto de terror. A ideia, no entanto, permaneceria mais algum tempo encubada nas entranhas de sua imaginação, até que enfim viesse a luz como a conhecemos hoje.
A biografia da autora é, em si, uma odisseia recheada de acontecimentos trágicos e digna de uma discussão a parte. Todavia, o que se deve saber sobre, é que Mary esteve, em linhas gerais, mais de uma vez em sua vida cercada pelos percalços da morte, que levou sua mãe durante seu parto e mais tarde lhe tiraria também seu primeiro filho, vitima de um aborto espontâneo. Seu romance com Percy Shelley também foi um tema bastante polemico, uma vez que ele teria se iniciado quando o poeta ainda era casado. A primeira esposa de Percy, no entanto, cometeu suicídio, morrendo afogada, em novembro de 1816. Apenas um mês depois, em dezembro do mesmo ano, Percy se casou com Mary Godwin, que a partir daqui passaria a ser conhecida como Mary Shelley.
Mas é preciso ir um pouco além de conhecer a vida da autora para entender o romance. Frankenstein foi publicado pela primeira vez em 1818, inicio do século XIX, em meio a uma onda de avanços na medicina, em especifico a respeito da anatomia humana. Foi neste contexto, entre guerras napoleônicas e o profundo sentimento de nacionalismo que se apoderava dos heróis do romantismo, que o clássico tomou forma.
O Monstro de Frankenstein
Na história, acompanhamos a jornada de Victor Frankenstein, filho mais velho de uma renomada família genebrina, um jovem médico, inteligente, ambicioso, e que, segundo o próprio, é repleto de paixões que o fazem querer aprender tudo indiscriminadamente. Foi tomado por esses impulsos, que Victor decide desafiar as leis da natureza e consegue em uma de suas tentativas dar a vida a uma criatura feita a partir de partes de cadáveres.
O Monstro de Frankenstein, como a coisa criada por Victor ficaria conhecida mais tarde pela cultura pop, era um ser grotesco, de aparecia horripilante e, ao contrario do que o médico havia previsto, dotada de uma grande capacidade de aprendizado. Ao vê-la abrir os olhos, no entanto, após anos de trabalho árduo e incontáveis tentativas frustradas de concluir sua obra prima, o médico é incapaz de encara-la, preferindo fugir a admitir que havia acabado de cometer o maior erro de sua vida.
A obra e seus desdobramentos transitam por temas complexos como ética e a relação entre criador e criatura. Mary consegue com a narrativa penetrar na alma do individuo narcisista e egocêntrico, capaz de sacrificar aqueles que mais ama em favor de suas ambições egoísticas, revelando a outra face do ideal romântico, figura de maior destaque durante o romantismo, com os quais estava bastante familiarizada.
O livro tem pouco mais de duzentas paginas e conta com um prefácio escrito pela própria autora, onde ela revela detalhes do inverno gélido no qual começou a escreve-lo. É um dos mais importantes romances góticos da história e percursor da ficção cientifica. Prato cheio para os amantes da literatura.
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