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A arte é para poucos

Em tempos de fome e desesperança

'A Balsa da Medusa', Theodore Géricault (1818-1819)


A obra acima é a representação artística de uma catástrofe: O naufrágio da fragata Méduse. Em 17 de julho de 1816, a embarcação deixou seu porto, na França, e começou uma jornada em direção à Saint-Loius, no Senegal. Dos cerca de 400 tripulantes, um numero muito maior do que a capacidade do navio permitia, seguia a bordo o novo Governador do Senegal, com sua família, uma centena de oficiais da marinha e uma equipe de mais de 60 cientistas. Hugues du Roy de Chaumareys, o capitão no comando, que esteve afastado do oficio por quase 25 anos graças a uma imposição de Napoleão, se mostraria mais tarde a escolha errada para a campanha.

No dia 2 de Julho, enquanto efetuava a travessia por uma zona de perigo, entre Cabo Verde e as Canárias, um grave erro de navegação levou a embarcação ao naufrágio. Cerca de 147 tripulantes foram abandonados a mercê da própria sorte pelo governador e grande parte dos oficiais, que ocuparam os únicos botes salva vidas disponíveis. E destes, apenas dez viriam a sobreviver ao resgate que só os encontrou treze dias depois da tragedia.


"Após o naufrágio da fragata Méduse, os sobreviventes passaram vários dias sobre uma balsa improvisada, à deriva em alto mar, antes do seu resgate. Suportaram a fome, a sede, a loucura e até o canibalismo... As feições e gestos dos retratados denotam a desesperada luta pela sobrevivência e o desejo de se libertarem deste sinistro destino." - Fonte revista Bravo!

De que maneira a fome, a loucura e a arte se correlacionam nos dias de hoje?

Em tempos de pós pandemia, de inflação enlouquecida e a gasolina disparando em uma seta ascendente, parece não haver fim para o clima de tragedia cômica, deliberadamente estabelecido por decisões egoísticas e fruto de um quadro geral de despreparo da nação como um todo. A mesma história parece se repetir varias e varias vezes, tendo como desfecho o mesmo resultado anunciado. E quem paga a conta no final da noite? A resposta já é bastante conhecida.


Recentemente o famoso retrato de Marilyn Monroe, de 1964, do artista pop Andy Warhol, “Shot Sage Blue Marilyn”, foi vendido em um leilão na cidade de Nova York por uma bagatela de US$ 195 milhões, algo em torno de R$ 1 bilhão na atual cotação.

Você já imaginou o que faria se fosse um bilionário? Segundo a Forbes, revista americana de economia, existem atualmente 62 bilionários no brasil. E ainda, segundo o IBGE, cerca de 70% dos brasileiros sobrevive com menos de dois salários mínimos, exatamente no mesmo cenário. Com apenas esses dados não é difícil fazer as contas e concluir quantos brasileiros da base são necessários para que apenas um possa entrar na primeira lista. A única diferença aqui para o quadro onde o Medusa naufragou é que, enquanto uma pequena minoria está sã e salva nos botes salva vidas, o restante está a deriva em um vasto mar de incertezas.


Avatar: O caminho da água


Neste contexto parece até ironia que a continuação do sucesso de bilheteria de 2009, do diretor James Cameron, tenha este nome. Até onde se sabe a tão aguardada sequencia do longa tem previsão de estreia no brasil no dia 15 de dezembro e faz parte da lista de filmes mais aguardados do ano nos cinemas. Indústria e seus profissionais que, alias, foram fortemente afetados pela pandemia.

Mas o que Marilyn Monroe, Avatar e a Balsa da Medusa tem em comum?

Segundo o próprio Cameron promete, Avatar 2 será “uma experiência cinematográfica única” que vai “expandir ao máximo as técnicas de resolução e imersão em 3D e efeitos visuais”. E ele não é o único. Doutor Estranho 2 que estreou nos cinemas no dia 5 de maio, arrancou muitos elogios da critica graças aos efeitos visuais de ultima geração. Assim como Jurassic World: Domínio, com previsão de estreia no dia 10 de junho deste ano, cuja proposta é trazer técnicas de edição e efeitos visuais aprimorados às telonas.

“Nos últimos dois meses, descobrimos uma nova forma de mesclar as extensões digitais nos animatronics, combinando a textura e o nível de fidelidade dos bonecos sem que percebam a diferença." - Colin Trevorrow, diretor de Jurassic World: Domínio

Leia mais em: https://veja.abril.com.br/coluna/em-cartaz/avatar-2-o-que-sabemos-ate-agora-sobre-o-novo-filme-da-saga/


Com tantas coisa acontecendo em tão pouco tempo, é fácil perceber que alguém será deixado de fora das grandes inovações que obviamente não chegam da mesma maneira para todos. Com a crescente banalização da miséria e hipervalorizarão dos bens de consumo é apenas uma questão de tempo para que coisas aparentemente comuns, como ir ao cinema com a família aos domingos, ou apreciar uma exposição de arte em um museu, se transformem em artigos de luxo. Destinados exclusivamente a uma minoria que prospera cada vez mais, às custas de uma parte da sociedade que canibaliza os seus para sobreviver ao dia seguinte, esperando por um resgate que pode nunca chegar.


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Até a próxima!

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